Fernanda Piçarra: “Vamos fazer a festa do futsal no feminino”



Terminamos da melhor forma estas antevisões ao Euro.

Hoje trazemos um dos primeiros nomes que vêm logo à cabeça das pessoas quando se ouve falar em futsal feminino.

Foram várias as pessoas a quem demos voz nestes últimos dias, entre ex-atletas e outras que estão no ativo mas não foram convocadas, acabamos mesmo por terminar estas antevisões sem falar com qualquer um dos nomes desse primeiro jogo internacional a 13 de Outubro de 1997, com uma seleção ainda hoje recordada pelo diretor da FPF Pedro Dias, que contava com o treinador Carlos Silva e com Sofia Grave, Tânia Pinto, Sílvia Valoroso, Ana Costa, Ana Isabel Costa, Ana Margarida Guerreiro, Cláudia Silveira, Cláudia Diogo, Ana Pimentel, Ana Caetano, Catarina Câncels e Daniela Silva como jogadoras, mas trazemos hoje um nome igualmente especial no futsal feminino nacional.

Fernanda Piçarra é vista por muitos como o grande nome do futsal nacional, muito pelo trabalho que desenvolveu na Quinta dos Lombos nos 18 anos que esteve ao serviço do clube, entre treinadora e coordenadora.

Nesses 18 anos, Fernanda conquistou uma Taça de Portugal como treinadora e como coordenadora uma Taça Nacional, na altura troféu máximo do futsal nacional, sendo a equipa liderada por Ricardo Azevedo, um dos homens que hoje poderemos ver no banco da seleção como adjunto de Luís Conceição.

Para alem desses feitos, Fernanda é muito conhecida por sempre dar a cara na luta pela igualdade de oportunidades para o futsal feminino, e foi ainda durante a sua carreira de treinadora, adjunta da seleção nacional universitária em 2010 e dois anos depois foi mesmo Fernanda que se assumiu como selecionadora nacional das nossas universitárias.

Muito mais poderíamos falar sobre Fernanda Piçarra, mas deixamos desde já esta antevisão ao Euro, que não foi apenas uma simples antevisão da competição em si, como também um pequeno balanço da realidade atual do futsal feminino.

A Zona Técnica Futsal agradece desde já a disponibilidade de Fernanda Piçarra (FP) em partilhar com todos o seu conhecimento nesta nossa antevisão do Euro.

ZT - Fernanda é um dos nomes mais mediáticos no futsal feminino pela sua constante luta pela igualdade de oportunidades. Depois de tantos anos a combater pelo futsal feminino, é um motivo de orgulho para si esta conquista do futsal feminino?

FP - A palavra é mais finalmente e não orgulho. Estamos num espaço tradicionalmente dominado e praticado por homens, tudo é conquistado a pulso, no futsal a dificuldade é dupla pois é a própria modalidade que tem de se desenvolver em quantidade de praticantes e quadros competitivos a nível Mundial no que respeita à prática pelos atletas de sexo masculino, normalmente, no caso da FIFA e da UEFA, só depois disso vem o desenvolvimento da prática pelas mulheres.

 

ZT - Este Europeu é já uma grande conquista, mas há ainda muito caminho pela frente e muitas mais provas são necessárias nesta modalidade. Entre uma oficialização de um Mundial, do Europeu de Clubes, ou até dum Mundial de Clubes, passando ainda por uma possibilidade do Futsal ser modalidade olímpica, qual destas opções vê como prioritária para um maior avanço da modalidade?

FP - Sendo o futsal uma modalidade em desenvolvimento, a prioridade tem de ser uma competição Mundial de Selecções. Só a FIFA terá essa capacidade, tal como vimos agora no Euro em que em poucos meses se passou de 7 para 23 selecções. Não podemos esquecer que para a modalidade ser Olímpica, terá de ser praticada por ambos os sexos.

 

ZT- Ainda assim esta modalidade precisa também de crescer noutros aspetos. Poucas são as atletas que conseguem ser profissionais, e as que o conseguem acabam por ter algumas dificuldades no pós carreira. Para além disso há ainda um número reduzido de jogadoras inscritas na modalidade e segundo os indicadores da FPF, o ano passado foi o ano com menos atletas seniores inscritas desde 2007/08. Que medidas há ainda a tomar para combater esta realidade?

FP - No que respeita à profissionalização das futsalistas penso que ainda estamos muito o longe. Tive oportunidade de falar com a Jenny sobre o Burela, note-se que é o único clube que tem uma convenção colectiva protegendo assim os direitos das atletas. O clube é financiado pela empresa Pescados Rubén e tem uma directora completamente apaixonada pelo futsal no feminino. A realidade dos clubes com futsal no feminino em Portugal, tirando o Sporting e o Benfica, é essa mas apenas na vertente sentimental e com muito menos capacidade económica. A FPF incentivou os clubes da Liga Sport Zone a ter equipas Femininas, tentando copiar um pouco o que se fez no futebol no feminino, só que as realidades em termos de capacidade de investimento e infraestruturas não são comparáveis. Os clubes vivem sufocados com dificuldades financeiras, a futebolizacão do futsal no que respeita às transmissões televisivas e redistribuição de receitas cria um fosso entre as equipas de topo e as restantes prejudicando a competitividade e levando os clubes a sobreviver no dia a dia. Não se pode acenar com uma verba e incentivar para constituir uma equipa, isso são meios deitados fora. Os clubes têm de ser desafiados a construir projectos consistentes, adequados à sua realidade, sendo premiados pela obtenção de objectivos a médio e longo prazo. As necessidades variam de Associação para Associação e de região para região e, diria, de clube para clube. Precisamos de levar o futsal a sério e de ser levadas a sério. Nos Lombos havia equipas da formação do Basquetebol que treinavam mais tempo do que a equipa sénior feminina de futsal. No futsal há muitas equipas seniores porque as atletas jogam essencialmente por prazer sem benefícios económicos, a maior parte apenas com duas unidades de treino por microciclo. Noutras modalidades muitas atletas deixam a prática porque quando chegam a seniores e não conseguem conciliar a sua vida pessoal e profissional com as unidades de treino exigidas, penso que no futsal pouco a pouco isso também está a acontecer. Posto isto, temos de realmente dar valor a todas as atletas do Campeonato Nacional, e respectivas equipas técnicas, por todo o esforço desenvolvido em prole da evolução pessoal e colectiva beneficiando em muito a modalidade e as respectivas selecções nacionais.

 

ZT - Acredita que uma possível vitória de Portugal neste Euro pode impulsionar o futsal feminino no nosso país? E o que tem a dizer das apostas da FPF nas seleções jovens, onde este ano vai trabalhar com duas faixas etárias diferentes?

FP - Um evento poderá ser aproveitado para impulsionar uma modalidade se as bases estiverem lançadas, ou seja, atletas em quantidade e qualidade, com condições de treino, tecnic@s competentes, quadros competitivos equilibrados, público, apoios e divulgação... Não acredito em momentos mas em trabalho continuado e estruturado.

O trabalho que tem vindo a ser feito pela FPF com as seleções mais jovens é de excelência mas, na minha opinião, não representa a qualidade futsalistica geral das equipas de formação. Tem de se ter muito mais jovens com qualidade para que estas cheguem às equipas do Campeonato Nacional e assim se aumente a qualidade e competitividade do mesmo.

ZT - Focando agora no Europeu, certamente que se mantém atenta aos trabalhos da seleção. Quais sãos os pontos que mais destaca desta seleção? O que acha que as pode ajudar a chegar à glória?

FP - A consistência do trabalho e a experiência de algumas atletas mesclada com a juventude e irreverência de outras.

 

ZT - Olhando para o lote das 14 escolhidas, a Fernanda conhece a grande maioria até porque teve de as estudar para os seus encontros, mas conhece certamente melhor que as restantes duas das convocadas, a guarda-redes Naty e a jogadora Jenny, duas atletas que treinou na Quinta dos Lombos, quais as características que mais destaca em cada uma dessas duas jogadoras?

FP - A Naty conhece o jogo como poucas, ajuda muito a equipa na sua organização defensiva e ofensiva e dá confiança. Joga muito bem com os pés e normalmente decide bem ao repor a bola. Parece-me estar bem fisicamente e psicologicamente, o que a torna uma Guarda-Redes de eleição.

A Jenny tem uma enorme paixão pelo jogo, com confiança é daquelas atletas que pode resolver e fazer a diferença.

 

ZT - Continuando a falar nas nossas internacionais a nível individual, quais as jogadoras que mais destaca desta convocatória final? Considera que existe alguma jogadora chave na nossa seleção?

FP - Como ex-treinadora seria incorrecto da minha parte destacar jogadoras, esta selecção vale pelo seu todo e todas elas têm um papel importante, até quando não jogam.

 

ZT - Olhando para as duas meias-finais, que seleções espera ver na final? E nessa sua final, quem deverá vencer?

FP - Espero uma final Portugal-Espanha, como quase toda a gente, acho eu. No entanto, as seleções tiveram muito tempo para se preparar, conhecem-se muito bem umas às outras e existem momentos de jogo que podem mudar tudo. No desporto não há, nem pode haver, vencedores antecipados. Espero que Portugal seja a seleção mais competente de todas e que vença.

 

ZT - Quer deixar uma mensagem às jogadoras que vão disputar este Euro?

Estive na Ajuda em 1997 no primeiro jogo internacional e espero vir a festejar com a nossa seleção a conquista do primeiro Euro da história. Vou a Gondomar porque merecem o apoio de tod@s. Junt@s somos mais fortes e vamos conseguir.

 

E ao povo Português que já esgotou os bilhetes da Final, mostrando assim muita confiança nesta seleção, tem alguma mensagem especial para deixar?

Quem esteve em 2012 em Oliveira de Azeméis, e viveu aquele ambiente inesquecível, sabe a importância do apoio do público. Vamos fazer a festa do futsal no feminino e apoiar a selecção em todos os momentos e fazer a conquista junt@s. Portugal, Portugal, Portugal!



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