António Pena, um dedo português no sucesso Espanhol



No passado fim-de-semana Portugal saiu derrotado na grande final do Europeu contra a Espanha.

Uma derrota por 4-0 que não corresponde de todo ao que se verificou durante o jogo e para o qual uma das grandes responsáveis desta seleção espanhola não ter sofrido qualquer golo na fase final da competição é mesmo Silvia Aguete.

Esteve sempre em alto nível, principalmente na final nos momentos em que Portugal criou um maior sufoco à seleção Espanhola mas onde a numero dois do mundo para a FutsalPlanet respondeu muito bem, algo que lhe valeu até a eleição pela Zona Técnica para o 5 ideal do Euro.

Se nessa final tudo correu mal para as Portuguesas nesse capitulo da finalização, um dos grandes culpados é também outro português, António Pena.

António é um experiente treinador de Guarda-Redes que trabalha atualmente com o Poio Pescamar FS, clube onde trabalha precisamente com Silvia Aguete.

É um apaixonado por futsal, sendo responsável pela criação de um clube local, e tendo trabalhado em vários clubes nos já 26 anos de carreira nesta modalidade.

Sobre Silvia, António admitiu que lhe reconheceu muita qualidade logo à primeira vista, mas isso poderá agora verificar através das palavras do mesmo que deixamos já de seguida.

Antes de mais a Zona Técnica agradece desde já ao António Pena (AP) pela disponibilidade demonstrada em participar nesta entrevista, desejando-lhe uma boa continuidade neste projeto de excelência.

 

ZT - Como surgiu o futsal na sua vida?

AP – Futsal surgiu de uma forma natural, com 20 anos jogava com amigos em torneios e no campeonato da 2ª divisão – zona norte (penso que era esta a sua denominação) pelo N.V. Sra. Hora, competição essa realizada naquele tempo pela Federação Portuguesa de Futsal. Em 1993 junto com amigos de infância decidimos criar um clube para as crianças da nossa freguesia poderem praticar desporto, nomeadamente Futsal e surgiu a “Associação Académica de Custóias” (Matosinhos).

 

ZT - Antes de chegar ao Poio Pescamar, que outros projetos teve por cá?

AP – Todos os projectos foram na zona do Porto, minha região, tudo começou como disse na Associação Académica de Custóias com passagens por clubes como Estrelas Guifões FC, Assoc. Moradores Urb. São Gens,  Clube Académico Sangemil, GD. Cafetaria Ouro, GDRC. Alto de Avilhó, GD. Praia Mar, A.D. Polenenses e Barranha SC. Peço desculpa se me esqueci de algum, aqui apenas referi os que estive de forma “oficial” porque ao longo destes 26 anos ligados ao futsal felizmente fui ajudando outros clubes de forma temporária  quando me pediam como foi o caso do ARDACM (Maia) que não poderia deixar de mencionar pela forma excelente como sempre me trataram.

 

ZT - Quais @s guarda-redes com quem trabalho que mais destaca pela sua qualidade?

AP – Ao longo destes anos tive a felicidade de trabalhar com muit@s Guarda Redes de grande qualidade tanto Portugal como nos 3 anos que levo aqui em Espanha e não gostaria de  referenciar alguém em especial. Até porque tod@as são diferentes, não existe um GR igual ao outro. Cada um com as suas características e qualidades próprias que devem ser potenciadas de diferente maneira. Pedirmos aos GR que atuem da mesma forma perante uma dada situação é um dos “erros naturais” que fazemos enquanto treinadores.

 

ZT – É atualmente treinador de Silvia Aguete, uma das grandes figuras da final do Euro, como descreve a Sílvia enquanto guarda-redes?

AP – Sílvia é como já disse muitas vezes um daqueles casos que “nasceu” para isto. Conheci Sílvia em Janeiro de 2014 e logo no primeiro contacto na quadra ficas logo com a sensação que está ali uma GR com as qualidades essenciais para chegar ao top. Foi uma disponibilidade para trabalhar nos primeiros tempos incríveis (sessões duplas de treino) e só assim se consegue estar ao máximo nível e no alto rendimento. Sua capacidade de trabalho em conjunto com as suas qualidades técnicas/tácticas e parte psicológica fazem de Sílvia um caso de “estudo”, o seu posicionamento, toma de decisão, concentração durante cada jogo são de nível máximo.

 

ZT – O quão gratificante para si é trabalhar com ela?

AP – Trabalhar com Sílvia nestas duas últimas temporadas é motivante e ao mesmo tempo exigente, ou seja, se exiges o máximo da GR, alta intensidade em cada treino também tens que estar ao mesmo nível. E isso é bom para ti enquanto treinador de Guarda Redes porque te obriga a melhorar a cada dia, a cada treino. Só assim podes evoluir e trabalhar com uma GR deste nível contribui para o teu crescimento enquanto treinador de GR.

 

ZT – Quais os pontos mais fortes e os menos fortes que encontra na Sílvia?

AP – Essa é uma pergunta que fica para “dentro” (risos)….agora a sério, é difícil encontrar pontos fracos na Sílvia, como acontece em cada GR há uns aspectos em que se trabalha um pouco mais que outros mas no global é uma GR onde naturalmente se salientam os seus muitos  pontos fortes. Como referi antes, o seu posicionamento, concentração, tomada de decisão, velocidade tanto de deslocamento como de reacção e a sua capacidade de leitura de jogo fazem de Sílvia uma GR de top mundial.

 

ZT - Como se sentiu na Final do Europeu? Dum lado o seu pais, do outro a sua guarda-redes, um dos seus projetos de trabalho, estava com o coração dividido?

AP – Como disse e escrevi nas redes sociais, foi um conjunto de emoções. Óbvio que gostava que Portugal tivesse ganho o Europeu, é o meu país e o quanto significava uma vitória no primeiro Campeonato da Europa mas por outro lado é também normal que fique feliz por ver uma pessoa com quem partilhas muitas horas de treino ao longo da temporada e que trabalhou tanto e tantas horas para isto, conseguir atingir o seu objectivo e o maior prémio da sua carreira desportiva, ficando para a história do futsal feminino.

 

ZT - Ainda quanto a essa final, a Sílvia esteve praticamente os primeiros 10 minutos sem grandes intervenções no jogo, mas depois Portugal apertou e ela respondeu sempre presente. Qual o segredo para ela conseguir manter o foco mesmo quando esteve menos ativa?

AP – Não existe segredo, ao contrário do que muitas pessoas pensam a capacidade de concentração, foco e atenção ao longo dos 40 minutos do jogo se potencia durante o treino e a temporada. Uma das coisas que trabalhamos desde muito cedo com @s GR é a sua confiança e a sua concentração seja no treino como no jogo. O treino tem que ser o mais real ao jogo e  desde os escalões de formação potenciamos este factor. O psicológico deve ser trabalhado e potenciado porque quem quer estar no alto rendimento sabe que cada segundo de um jogo de futsal é importante e nesta modalidade não á tempos “mortos” só quando o treinador pede 1 minuto (risos).

 

ZT - Hoje em dia a escola de guarda-redes espanhola é muito seguida pelo mundo fora, e os métodos de trabalho são muito utilizados nos outros países, mas nem sempre assim foi. Quais as principais diferenças que encontrou dos métodos de trabalho usados em Portugal para os que se usavam em Espanha na altura?

AP – Em 2014 quando cheguei á Liga Feminina em Espanha, notei rapidamente que dão muita importância ao gesto técnico em si. Potenciam desde muito novos @s GR á introdução dos vários tipos de defesa, ao desenvolvimento da técnica (reposição com as mão e os pés) e na tomada de decisão. O trabalho de coordenação tanto dos membros superiores como inferiores é outro dos aspectos muito trabalhado na denominada “Escola Espanhola”. Mas para tal é necessário tempo, espaço e treinadores especializados para tal, e aí penso que reside a maior diferença entre Portugal e Espanha. Por exemplo aqui no Poio Pescamar FS actualmente para além de duas unidades treino mínimo que cada categoria de base tem, ainda temos para além disso uma “Escuela de Porter@s”, dois dias de treino específico semanais para @s GR.  O que no fim de uma temporada proporciona muitas horas de trabalho para @s GR e isso naturalmente se repercute no desenvolvimento dos objectivos atingir para determinada etapa.

 

ZT – Olhando para as duas realidades de futsal feminino entre Portugal e Espanha, quais as maiores diferenças que destaca?

AP – Bem, esta questão será certamente a mais relevante de todas neste momento depois do Europeu. Muito tenho lido e escutado sobre este tema. Primeiro que tudo, todas as pessoas falam de jogadoras profissionais e amadoras. Sim, na Liga Espanhola temos jogadoras profissionais mas ao contrário do que pensam a Liga não é profissional mas sim semi-profissional porque muitas estudam ou têm o seu trabalho também, igual se passa com os treinadores. Na minha opinião, não deixando de ser um ponto muito importante, não é o único. O aumento da participação de jogadoras no futsal, a criação de Campeonatos Femininos de base, categorias sub 11,sub, 13,sub 15 e sub 17, aumento da carga horária dos treinos no feminino, maior número de pavilhões disponíveis para a prática do Futsal são a grande diferença entre as duas realidades que depois se traduz quando chegamos ao alto rendimento. Falando por exemplo um pouco da minha realidade no Poio Pescamar FS, sou também treinador de 2 equipas de base femininas aqui em Espanha (sub 11 e sub 13) e posso garantir que temos 3horas semanais treino para cada escalão (2 pavilhões de escolas disponíveis a partir das 16h mais o pavilhão principal do município de Poio), utilizados por 3 modalidades (Futsal, Andebol e Ginástica). Campeonatos e taças locais, Ligas e taças Galegas, competições no caso das taças realizadas muitas vezes no sistema de “final four” com pavilhões com uma moldura humana assistir que impressiona, ou seja, desde muito jovens as jogadoras estão habituadas a exigências competitivas completamente diferentes de Portugal e somando tudo isto no final são pormenores que marcam a diferença quando chegas ao alto rendimento.


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