Barça sai de Peñíscola com uma manita e três pontos de ouro
Há jogos que se explicam pelo resultado. Outros exigem história, contexto e respiração — como este.
O Barcelona venceu em Peñíscola por 1-5, mas aquilo que aconteceu no Juan Vizcarro foi muito mais do que uma goleada. Foi uma viagem intensa entre o controlo, o caos e a redenção. Um daqueles encontros em que o futsal mostra o porquê de ser tão imprevisível e tão apaixonante.
O relógio ainda engatinhava nos primeiros minutos quando Adolfo, sempre com a baliza no olhar, encontrou um pequeno rasgo de luz e fuzilou para o 0-1. Um golo que parecia anunciar uma noite tranquila, talvez até monótona, daquelas que se escrevem quase sozinhas.
Mas o futsal nunca promete nada — e cumpre ainda menos.
Aos 4 minutos, Joao Víctor, precipitado, mergulhou num lance duro sobre Rosental. Vermelho direto. O pavilhão acordou, a bancada inflamou, e o Barcelona, até então confortável, perdeu a respiração durante alguns minutos.
Javi Rodríguez viu a equipa descompensar-se e pediu um tempo técnico que soou mais a necessidade do que a estratégia. Quinze segundos de silêncio para reorganizar um grupo que, de repente, parecia ter sido atirado para o centro de um turbilhão.
E quando o turbilhão parecia não querer abrandar, surgiu Matheus — o homem que tantas vezes dá corpo à frieza e decisão blaugrana. A três minutos do intervalo, num remate seco, inteligente, fez o 0-2. Um golo que valeu mais do que dois: valeu tranquilidade, valeu oxigénio, valeu liderança emocional.
O Barcelona foi para o descanso a ganhar… e a recuperar o controlo do próprio destino.
O segundo tempo arrancou em sobressalto, como se alguém tivesse sacudido a noite.
Aos 22’, outra vez Matheus, outra vez ele, encontrou espaço, ganhou corpo e fez o 0-3. O Barcelona parecia finalmente pronto para administrar o jogo.
Mas, em Peñíscola, nada fica escrito antes do tempo.
No mesmo minuto, Gus, guarda-redes da casa, adiantou-se, arriscou e conseguiu o improvável: remate certeiro, golo, 1-3, e um pavilhão inteiro a explodir num grito de esperança.
O jogo ficara vivo — demasiado vivo.
Mas o Barça respondeu como o Barcelona responde. Não com pânico, mas com precisão.
Um minuto depois, Pito apareceu como só os pivôs de elite sabem aparecer: timing perfeito, gesto frio, finalização limpa. 1-4.
E nesse instante, mesmo que faltassem muitos minutos, percebeu-se que a história estava praticamente contada.
Com o Peñíscola a apostar tudo, com coração, alma e uma vontade teimosa, o Barcelona mostrou porque é uma das equipas mais respeitadas da Europa: respirou fundo, circulou a bola, escolheu o tempo certo para acelerar e deixou o adversário correr atrás de sombras.
Aos 32’, Antonio fechou a noite com um golo que pareceu pintado — forte, elegante, decisivo. 1-5.
A manita estava feita, e o pavilhão ficou dividido entre a frustração e o reconhecimento. O Barça não perdoa quando encontra brechas. E encontrou várias.
O Barcelona sofreu, resistiu e depois dominou.
Mostrou maturidade emocional, nível competitivo alto e a capacidade de transformar um jogo complicado numa vitória de referência.
Peñíscola lutou, e muito, mas o Barça saiu do Juan Vizcarro com a sensação de que, esta época, pode querer mais do que apenas competir.
Pode querer mandar.