Portugal assina uma exibição que fica para a história: recital, controlo e uma aula de futsal rumo à final



Há noites (manhã em Portugal) em que tudo encaixa. Há seleções que respiram um entendimento coletivo tão claro, tão limpo e tão maduro, que parecem jogar com o futuro aberto à sua frente. Portugal assinou uma das maiores exibições da sua história no futsal feminino: venceu a Argentina por 1–7, dominou cada fase do jogo e carimbou uma presença na final com uma autoridade que raramente se vê num palco mundial.

Desde o primeiro segundo, percebeu-se uma equipa preparada para o que vinha aí. O 1x1 defensivo esteve a um nível superlativo, digno da seleção masculina de 2018, aquela que mudou o futsal português para sempre. Houve cortes a carrinho, houve triângulos defensivos a fechar espaço com precisão cirúrgica, houve racionalidade constante na ocupação de corredores e houve uma leitura coletiva que tirou a Argentina do seu conforto. Não é por acaso que a Albiceleste nunca tinha estado em desvantagem no marcador neste Mundial; Portugal tratou de quebrar isso em menos de um minuto.

A equipa soube sempre ler o simples, e é na simplicidade bem-feita que se escondem as equipas grandes. Cada aceleração tinha um propósito, cada pausa tinha intenção, cada linha de passe existia porque alguém pensou o jogo antes de receber. Com bola, foi um recital. Sem bola, foi uma lição.

O primeiro tempo é um manifesto técnico-tático:

Golos em bola parada, ataque organizado, pressão alta e transição.

Vinte minutos perfeitos. Sem exagero.


Primeira parte: vinte minutos absolutamente perfeitos

O marcador abriu cedo e deu o tom.

Aos 57 segundos, Lídia Moreira apareceu a atacar o espaço interior após assistência de Carolina Pedreira e marcou o 0-1. Um golo que desbloqueou a Argentina e abriu o palco para o recital que se seguiria.

Pouco depois, aos 6’14’’, Inês Matos leu a saída contrária, fixou e soltou no momento perfeito para Fifó, que finalizou para o 0-2 — pura simplicidade tornada arte.

O terceiro chegou ainda antes dos 9 minutos:

08’08’’ — Lídia Moreira, novamente a aparecer na zona certa, num movimento de leitura ofensiva impecável, fez o 0-3.

E o vendaval não parou.

Logo depois, 09’06’’, Janice Silva finalizou após assistência de Fifó, aumentando para 0-4.

O quinto surgiu aos 09’52’’, com Fifó a combinar com Maria Pereira e a finalizar de primeira: 0-5.

E antes do intervalo ainda houve tempo para mais uma obra coletiva:

14’27’’ — Ana Azevedo, após tabela com Fifó, rematou colocado e fez o 0-6.


O intervalo chegou com Portugal a vencer 0-6, numa meia-final de um Mundial.

Vinte minutos que entram diretamente para a história da modalidade.


No segundo tempo, Portugal elevou ainda mais o nível. Entradas duplas, pivô entre linhas, variações constantes de 1:3:1 para falso pivô e até momentos prolongados em 1:4:0. Tudo dentro da mesma posse. Tudo com naturalidade. Tudo com uma maturidade competitiva que o feminino português nunca tinha mostrado nesta dimensão, uma inteligência de quem já está a preparar a final.

Com o jogo resolvido, chegou a gestão. Há uma final à porta, poucos dias de repouso e a consciência de que o corpo também joga.

O sétimo golo chegou aos 20’45’’, com Inês Matos a aparecer vinda de trás, finalizando uma circulação exemplar iniciada por Maria Pereira. 0-7 — um golo que resume o jogo: paciência, leitura e execução limpa.

A Argentina ainda reduziu aos 38’13’’ por Mailen Romero, numa ação isolada já em momento de menor intensidade portuguesa. 1-7 no marcador final

Mas a exibição fica para memória futura.

25 anos depois do primeiro Mundial português na Guatemala — torneio que redefiniu a modalidade no nosso país —, Portugal assina uma noite que conta história. Já vencemos o Brasil num Mundial universitário, mas bater a Espanha numa final feminina é um capítulo que ainda falta escrever.


Hoje, Portugal mostrou que está pronto para tentar escrevê-lo.


Figura da Partida — FIFÓ (Portugal)

Faz parecer fácil aquilo que para o comum mortal é impossível. Decisiva entre linhas, letal na finalização, impecável na leitura da transição. Assistiu, marcou, liderou a pressão e elevou o ritmo sempre que a equipa precisou. Uma exibição de maturidade e de classe mundial.


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